segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Ser feliz não é pecado


A felicidade é desprezada por muita gente. A pessoa feliz sofre preconceito de parecer uma pessoa vazia, sem conteúdo. No entanto,algo ela tem, senão não incomodaria tanto. Será que é porque ela nos confronta com nossa própria miséria existencial? É irritante conhecer alguém que é naturalmente linda, rica, simpática, inteligente, culta, talentosa, apaixonada e, ainda por cima, magra! Essa ninfa nunca ouviu falar em insônia, depressão, dívidas, musse de chocolate?




Os felizes ainda estão associados ao padrão "comercial de margarina", portanto, costumam ser idealizados - e desacreditados. É como se fossem marcianos, só que não são verdes. Por isso, damos mais crédito aos angustiados, aos irônicos, aos pessimistas. Por não aparentarem possuir vínculo com essa tal felicidade, dão a entender que têm uma vida muito mais profunda.




Você é feliz? Não espalhe, já que tanta gente se sente agredida com isso. Mas também não se culpe, porque a felicidade é coisa bem diferente do que ser linda, rica, simpática e aquela coisa toda. Felicidade, se eu não estiver muito enganada, é ter noção da precariedade da vida, é estar consciente de que nada é fácil, é tirar algum proveito do sofrimento, é não se exigir de forma desumana e, apesar (ou por causa) disso tudo, conseguir ter um prazer quase indecente de estar vivo.




O psicanalista Contardo Calligaris (campeão em citações) certa vez disse uma frase que sublinhei: " Ser feliz não é tão importante, mais vale ter uma vida interessante." Creio que ele estava rejeitando justamente essa busca pelo kit-felicidade, composto de meia-duzia de realizações convencionais. Ter uma vida interessante é outra coisa: é cair e levantar, movimentar-se, relacionar-se com as pessoas, não ter medo de mudanças, encarar o erro como caminho para encontrar novas soluções, ter a cara-de-pau de se testar em outros papéis - e humildade para abandoná-los se não der certo. Uma vida interessante é outro tipo de vida feliz: a que passou ao largo dos contos-de-fada. É o que faz você ter uma biografia com mais de dez páginas.




Se você acredita que ser feliz compromete seu currículo de intelectual engajado, troque por outro termo, mas não cuspa nesse prato. Embriague-se de satisfação íntima e justifique-se dizendo que é um louco, apenas isso. Como você sabe, os loucos sempre encontram as portas do céu abertas.




Rita Lee, que já passou por poucas e boas, mas nunca se queixou de não ter uma vida interessante, anos atrás musicou com Arnaldo Batista estes versos: "Se eles são bonitos, sou Alain Delon/se eles são famosos/sou Napoleão/se eles têm três carros/eu posso voar." Também faço da "Balada do louco" meu hino, que assim encerra "Mas louco é quem me diz que não é feliz."




Martha Medeiros



para a Revista do Globo em 30/12/07




Faço minhas as palavras de Martha. Nas minhas resoluções de ano novo está listado "apreciar o caminho", pois costumo dar mais valor ao objetivo final. Deposito nele as minhas esperanças de felicidade. Mas o que deveria fazer é apreciar o caminho, a rota percorrida pra chegar lá.




Então, minha principal resolução de ano novo e ser feliz agora, hoje...amanhã será o que Deus quiser.

Um comentário:

Anônimo disse...

Puxa, Fernanda, vc e a Martha mandaram muito bem! Por que as pessoas felizes são tão invejadas?

Estou passando por um perrengue daqueles mas minha felicidade agora tem nome - o Filhote - e é minha responsabilidade seguir o caminho feliz com ele!

Um ÓTIMO 2008 pra vc e pro Rafa!
Assim que o presente chegar, eu aviso : )

Muuuitos beijos!